18 de dezembro de 2009

Qualquer coisa que se possa querer sempre

O Inverno chegou...

O frio penetra intensamente na pele, arrepia e faz com que as mãos se queiram aquecer uma à outra no conforto de um casaco bem apertadinho, quente.

As folhas deslizam e penetram nas pedras dos passeios, fazendo parte integrante deles. Uniram-se. Os pés deslizam sobre elas, escorrendo em pequenas porções de desequilíbrio.

A rua deixa de cheirar a nada para cheirar a tudo, cheirar ao sabor que a nossa memória permite abraçar. E sabe tão bem sentir o quentinho dos cheiros a encherem o nosso pedaço de gente de tudo. É hora de levar tudo isso para dentro.

Sim, está frio, chove, apetece ficar de manta no colo e com qualquer coisa quente nas mãos... qualquer coisa que se possa querer sempre!

9 de dezembro de 2009

Sandra

Ela não era bonita, tinha até uma certa rudez no rosto, no corpo, um pouco sem forma, quadrada, mas as suas ancas torneavam as mesas de modo orquestrado e sedutor. Servia à mesa no meio de piropos dificilmente envergonhados e cheio de tentações, mas também desprezíveis e ruidosos... "oh Sandra, mais meio jarro de vinho" ... "oh menina, então isso sai ou não sai?!" ... não há ar cansado, há olhar alheado, distante, não sei se sonha, se quer, se constrói um paraiso fora das portas daquela cave carregada de fritos e cheiro a pataniscas de bacalhau. Não deve voar muito alto, as frigideiras, pratos que guincham e talheres que se cruzam prendem-na aos olhares daquela gente que, dia após dia, pede os mesmos pratos, olha para a sua camisa branca, pálida, rugosa, por onde se sente o soutien de textura redonda e torneado por bolas vermelhas, dispersas no olhar guloso de quem fica mais atento àquele decote.
Realmente não era bonita, e o cabelo preso ao alto, com as pontas reviradas e fugitivas, deixavam-na ainda mais com ar de menina dispersa nos pedidos de quem a prende àquele lugar... "oh Sandra, traz lá a continha, sim?" ... "São 5,75€, se faz favor".

4 de dezembro de 2009

há dias em que não apetece nada sair da cama e saltar para o mundo.
lá dentro, no meio dos lençóis está quentinho e apetece o aconchego daquilo que nos tapa, que nos fecha por umas horas e nos cobre com o peso do nada.

hoje a casa ficou vazia, virou-se mais uma página e lá tive que me levantar do quentinho.