28 de setembro de 2009

Al caxete

José Luis das Neves Mendes


O vento vai batento na pele, em chapadas de frio que entorpecem, e o reflexo do sol incide sobre o copo meio cheio de água, inclinado sobre a mesa apoiada na irregularidade das pedras da calçada.


Grasnam, lá ao fundo, penas voadoras, brisas que serpenteiam a superfície do rio e o acastanhado das ondas. Batem cada uma delas nas pedras da margem, enamoram-se delas e visitam-nas a cada oito horas - a saudade é usurpadora, quando a paixão teima em fugir.


A ponte emerge, qual senhora permanente das águas e os barcos fazem-lhe a corte, ancorados junto ao cais da igreja. Igreja que badala a cada união, tornando as ruas flores e gritando bem alto até às salinas.


Volta a haver sal, a água vai secando e os flamingos cor-de-rosa mudam de poiso.

21 de setembro de 2009

Para o ano há mais


Cheira a carvão, cheira à carne que roda no espeto e à febra que se deita na brasa. O carvão fuma-se em cada dentada que uma bifana permite.


Sim, ontem fui à festa!


Ora era barraca que se apropriava da rua, expondo as suas vísceras, ora era o barulho dos fritos, que salpicavam a cara do fartureiro, com os dedos besuntados de açucar e aroma do Sri Lanka.


Pregões não haviam, apenas o lamúrio das gentes que se cruzavam entre balões bem tesos de encontro ao céu e música caprichosa dos gigantes de metal, que continuam a querer chocalhar quem se senta neles para mais uma voltinha.


E foi isso mesmo o que eu fiz... mais uma voltinha, mais um respirar de cheiros que ficam na casa das memórias, mais um mergulho na ebulição de quem não se conhece, mas que vai ao mesmo que eu. À festa.


Para o ano há mais, este ano o rio já se calou, o santo voltou para o altar e os foguetes rebentaram todos no ar.

15 de setembro de 2009

Até os barcos esperam...

António Tapadinhas

Esperar é difícil enquanto o sol se põe e a procissão passa pela estrada da rua direita, com o santo lá no alto.
"Santo da casa não faz milagres", mas os barcos ancorados à margem acreditam, quando ele desce do andor e despe o manto abençoando as águas onde eles esperam.
Quem não tiver embarcação acompanha o compasso ao longo da margem do rio, assistindo de perto a sensação religiosa da fé, tal como acontece nos últimos momentos da crença de qualquer barco.

9 de setembro de 2009

09/09/09


Os dias, os números e os estados de alma parece que se fundiram todos hoje, formando a possibilidade de 9 momentos importantes, para o mundo e outros para quem voa por entre o mundo em forma de palavras coloridas...

1828 - Nasce Liev Tolstói, escritor russo
1884 - Foi inventado o cachorro quente
1948 - Independência da Coréia do Norte
1956 - Elvis Presley aparece pela primeira vez
1975 - Nasce Michael Bublé, cantor
1976 - Morre Mao Tse-Tung
1981 - Morre Jacques Lacan, psicanalista
9 Set - Dia do Veterinário
2007 - Roger Federer conquista pela 4ª vez consecutiva o US Open nos Estados Unidos

09/09/09 - o resto de tudo, de todas as palavras que ainda vão ser escritas, de todas as cores que vão ganhar tons, dos sons que se vão deixar transportar pelas ideias e de todos os momentos, que a memória não vai deixar escapar...

8 de setembro de 2009

Molhada

Cai chuva em mim...
Estou
encharcada...

3 de setembro de 2009

Cheiro

Tudo tem um cheiro, até a água fria...

Cheira a nascente.
Cheira a terra.
Cheira a molhado.
Cheira a campo.
Cheira a praia.

Sentes?

1 de setembro de 2009

Pintarolas

Hoje movimento-me pelo mundo das cores, dos sabores doces e das partilhas instantâneas. Dou-te uma pintarola, e depois outra, e mais uma, e uma... de modo a que a tua língua se vai camuflando de todas as cores que a caixinha de cartão colorida permite.

Abre-se uma janela ao diálogo, à conversa acelerada e aos beijos com sabor a chocolate... beijos pegajosos e demorados, na mesma extensão que uma caixa destas drageias permite.

Pintamos o momento com estes sabores que a saliva dissolve e a boca destrói no instante em que elas se desfazem na boca.