22 de fevereiro de 2010

Fábulas

Tiago Cabral (restaurante Fábulas - Lx)

Era uma vez...



As escadas conduzem a um local mágico de cor e transpiração de momentos.

Há ocre, há laranja, há tons quentes, que encerram sofás confortáveis e mesas achadas num mundo de fantasia, aqui ao lado.

O cheiro do quente, conforta o corpo num sofá esticado e o requinte do chá povoa a língua e vai despertando o corpo, que se enterra caprichosamente ainda mais nas almofadas fofas do sofá.

As pernas cruzam-se, o corpo ganha elasticidade e os pés são descalços de apertos... os sapatos vermelhos ficam a repousar no chão, debaixo da mesa com cheiro a madeira.

Tudo faz sentido agora. O momento é de paladares e as mãos tocam-se em provas de boca silenciosas.

Gostei de ter lido, de provar cada migalha da história por contar, enquanto as velas iluminavam o livro.



15 de fevereiro de 2010

lua


Quero pedir a lua com palhinha!

Quero que o seu volume frio se deixe sugar até mim.

Sentir o deserto do seu vazio pautar o meu olhar, enquanto a bebo, a sorvo e a faço delirar.

É minha, neste instante de momento, de conversa de boca, onde a namoro e a guardo no bolso.

Se quiseres, por baixo desta noite afogada de estrelas, posso partilhá-la contigo.

Só hoje... depois volto a pô-la no bolso.

10 de fevereiro de 2010

Casei contigo ontem à noite, numa dança de corpos só nosso,
embrulhada e tapada pelo pensamento do desejo.

5 de fevereiro de 2010


- Gostas de mim?

- Gosto de ti porque sabes a fruta de Verão, quente que refresca.

- Dá-me a tua mão, deixa-a pousada na minha e fecha os olhos. Fecha!

- Fechados.

- Desliza sobre mim, não me toques, apenas desliza e afaga-me o corpo sem me sentires, imagina, sim, imagina.

- Dou-te a minha mão. Faz dela tudo o que quiseres. Deixa-a entrar por baixo da tua roupa, deixa-a pousar no teu abraço.

- Deixo. Deixo-a tudo isso. Mas só quando a sentir. Agora ela ainda não me toca.


3 de fevereiro de 2010

acordei

Vou voltar para a cama, pôr uma música baixinho e ouvir as estrelas.
Embala-me tu agora para eu conseguir dormir mais um pouco.
Mas depois quero acordar com os teus lábios arrastados.
Vá, faz-me arrepiar.

2 de fevereiro de 2010

texto

Queria resumir à insignificância as letras apalavradas que me deram a ler. Queria tanto! Mas os diálogos construídos na inocência da exaltação martelam incessantemente em mim, mantendo-me dispersa e acordada de toda a calma que podia não ter lido.
Merda de palavras que troçam de mim, fogem e escondem-se nos significados mais sexuais. Cada curva, cada contorno que as fazem ser as letras que escrevem palavras ferem-me na forma como se torcem e gemem ao serem desenhadas, ao serem escritas.
Merda de diálogos que são arrepios para a pele de quem escreve, angústias estomacais de quem e não percebe quase nada, mas as palavras parecem que dançam nas frases e se conjugam na hostilidade de quererem transmitir mais do que significados, querem transmitir pecados, sussurros, toques aliados à penetração do quente e à intensidade do desejo.
Merda para tudo aquilo que se lê e se constrói à medida que os olhos vão ficando cansados e entregues à melodia que as palavras querem cantar, sem nunca terem ensaiado antes. Que se lixe a gentileza, que se lixe a pele de galinha, quero deixar de ser capaz de ler entre as entrelinhas, quero que apenas exista espaçamentos simples, lineares, onde o sexo entre as letras seja bem mais do que a penetração do desenho no momento. Quero que esses desenhos e recortes de tudo o que me têm para me dizer me encostem à parede, me deixem sem ar e me obriguem a respirar de um só trago a vivência do momento. Sem doçura - pois de perfeição estou farta - mas de imediato, de entrega, despida do peso do ontem e de ditados extensos.
Beija-me de palavras... faz-me um texto... lê-mo e cansa-me nele.