7 de junho de 2010

Pastéis de Bacalhau

E a barriga, pálida e mole continua encostada ao fogão. Agitam-se as mãos no enrolado de massa vestida pelo tilintar das colheres. Formam-se... ajeitam-se... deitam-se no azeite quente do amarelo e rebolam-se agitados, a escaldar.

E o avental continua sujo, amachucado de encontro ora ao balcão, ora ao fogão. A boca resmunga frases soltas de desprazer, marteladas pelo cheiro a fritos, que se inebria no cabelo e se acomoda por debaixo da pele de tal maneira que, por muito sabão onde a pele escorregue, o cheiro casou, faz parte, enamorou-se da dona dos pastéis de avental.

A campainha toca. Os pastéis deixam de navegar no quente. Repousam no papel. A mão é limpa à pressa no avental e a boca grita "Já vai". E foi. A porta abre-se. A encomenda quente, de cheiros, de sabor, de pastéis, é entregue, é trocada por um alívio de esta já está. A porta bate. Volta a ouvir-se a batida das colheres na tigela. Há mais pastéis a mergulharem.

2 de junho de 2010

BCN



lombartBCN

É um chocalhar de moedas constante, moedas atiradas ordenadamente, rua a cima, rua a baixo. Moedas que entregam sorrisos, posições engraçadas e descansos fingidos, num gargalhar, num gesto de surpresa, num pulo de susto.
São mestres da paciência, da incoerência do ficar quieto, insistem nas fatiotas pouco elegantes, gastas de cores e torneadas de costuras pouco eficazes, deixando escapar qualquer duelo mais cru com a personagem por detrás do boneco.
Mais uma... mais uma... esta não ficou bem... - e a máquina fotográfica, já cansada da viagem e na inutilidade turística, volta a disparar mais uma estagnação do momento. Sim, há sorrisos, sim, parece haver felicidade, sim, há outra moeda atirada para a garrafa cortada, de plástico pintado de pinceladas de pouca mestria, mas eficaz no vazamento de disparos que guardam momentos em pastas de computador.
A estátua mexe-se... o homem volta a ganhar paciência, mas o coração bate lentamente, contrariando os passos martelados no passeio, de quem passa, de quem não olha, de quem não acha graça, de quem mantém as moedas do botão actividade presas na carteira.