Hoje nevou em Lisboa.
Em cada rua fazia frio e fechei ainda mais o corpo. Fui descendo a rua da misericórdia e sentei-me num banco branco, no miradouro. Sentei-me perto de mim e deixei-me lá ficar, enquanto tentava aquecer as mãos uma contra a outra. O tempo parecia ter parado, só as pessoas atrás de mim se mexiam, desnorteadas e paralelas.
Fixei o olhar no castelo. Não o vi. Pareceu-me longe, longe de Lisboa, longe da neve que a cobria. Voltei a descer, voltei a levantar-me do meu banco. Não deslizava, parecia que flutuva naquela brancura no chão, era fofo, aconchegante. Apetecia continuar a andar, continuar a caminhar por entre toda aquela maciez. E continuei.
Passei por cheiros de sabores e deliciei-me admirada com a dança do frio e do cheiro, soberba, enebriante... dançaram comigo... mais uma vez, deixei-me envolver... pelo frio que sentia, e que o casaco teimava em não cessar, pelo esplendor do branco e pela calma em mim mesma.
É bom quando a natureza nos sussurra.