7 de agosto de 2009

Gente

Irene Medeiros


Hoje enterrei-me no meio de gente.


Gente de várias cores no meio de tecidos com texturas berrantes.


Pregões de preços diminutos soavam e ecoavam entre bancas oferecidas a quem as contornava, a quem as tocava e pousava os olhos.


Senti-me perdida. Não me achei. Muito menos me falei. Vagueei.


Terra batida que me empoeirou os dedos dos pés e me fez arrastar o andar, com imensa ânsia de parar, me encostar e revolver. Não o fiz, sou envergonhada.


Os barulhos cruzavam-se, fundiam-se numa ladainha absorvente de boca, boca despida de formalidades. Venha Ver... Oh menina!!!


Não fui, preferi sentir o sol quente a queimar a pele à medida que o andar fugia-me dos pés.


A 3 euros, a 3 euros, só hoje!


E amanhã, já não há pó nos pés, nem o cheiro a fumo no tecido, nem o ranho da criança que rebola nos estrados de madeira?


Amanhã vai continuar a haver os mesmos diálogos sem interlocutor, que se dissipam no meio da fruta por lavar e das azeitonas a boiarem nos baldes azuis.


Amanhã volto lá. Pode ser que me encontre.