Irene Medeiros
Hoje enterrei-me no meio de gente.
Gente de várias cores no meio de tecidos com texturas berrantes.
Pregões de preços diminutos soavam e ecoavam entre bancas oferecidas a quem as contornava, a quem as tocava e pousava os olhos.
Senti-me perdida. Não me achei. Muito menos me falei. Vagueei.
Terra batida que me empoeirou os dedos dos pés e me fez arrastar o andar, com imensa ânsia de parar, me encostar e revolver. Não o fiz, sou envergonhada.
Os barulhos cruzavam-se, fundiam-se numa ladainha absorvente de boca, boca despida de formalidades. Venha Ver... Oh menina!!!
Não fui, preferi sentir o sol quente a queimar a pele à medida que o andar fugia-me dos pés.
A 3 euros, a 3 euros, só hoje!
E amanhã, já não há pó nos pés, nem o cheiro a fumo no tecido, nem o ranho da criança que rebola nos estrados de madeira?
Amanhã vai continuar a haver os mesmos diálogos sem interlocutor, que se dissipam no meio da fruta por lavar e das azeitonas a boiarem nos baldes azuis.
Amanhã volto lá. Pode ser que me encontre.