1 de abril de 2010

Um eléctrico chamado desejo

Lia Costa Carvalho


Ela estava encostada à porta desengonçada de ferro.
Ele estava sentado no banco corrido, suportado por traços de madeira escura.
Não se conheciam.
Não se apaixonaram.
Apenas apanharam o mesmo eléctrico, lento, demorado, estratega nos carris que despertavam a estrada.
Ela gostou da boca dele.
Ele gostou do cabelo sedutor dela.
Os olhos apalpavam a pele de cada um, enquanto o sorriso espremia a pele de encontro às pessoas, que se seguravam como podiam dentro do eléctrico.
Não houve toque.
Nem sequer se tocaram.
De qualquer forma, porque o baloiço do eléctrico o permitia, despiram-se um para o outro.