Ela não era bonita, tinha até uma certa rudez no rosto, no corpo, um pouco sem forma, quadrada, mas as suas ancas torneavam as mesas de modo orquestrado e sedutor. Servia à mesa no meio de piropos dificilmente envergonhados e cheio de tentações, mas também desprezíveis e ruidosos... "oh Sandra, mais meio jarro de vinho" ... "oh menina, então isso sai ou não sai?!" ... não há ar cansado, há olhar alheado, distante, não sei se sonha, se quer, se constrói um paraiso fora das portas daquela cave carregada de fritos e cheiro a pataniscas de bacalhau. Não deve voar muito alto, as frigideiras, pratos que guincham e talheres que se cruzam prendem-na aos olhares daquela gente que, dia após dia, pede os mesmos pratos, olha para a sua camisa branca, pálida, rugosa, por onde se sente o soutien de textura redonda e torneado por bolas vermelhas, dispersas no olhar guloso de quem fica mais atento àquele decote.
Realmente não era bonita, e o cabelo preso ao alto, com as pontas reviradas e fugitivas, deixavam-na ainda mais com ar de menina dispersa nos pedidos de quem a prende àquele lugar... "oh Sandra, traz lá a continha, sim?" ... "São 5,75€, se faz favor".